sábado, 22 de janeiro de 2011

O "impeachment" e o governador

Antônio Risério



Circula na internet um abaixo-assinado pedindo o impeachment do desprefeito de Salvador. Entendo perfeitamente: esse cara se comporta ora como adversário, ora como inimigo da cidade. Mas não vou botar meu nome embaixo do texto. Por dois motivos. Primeiro: adianta alguma coisa tirar João Henrique e Edvaldo Brito ocupar o posto? Não. É como trocar seis por meia dúzia. Segundo: mais do que ejetar o desprefeito do cargo, minha vontade é pedir o impeachment da população que o elegeu e – pior ainda – reelegeu. Sei que é impossível. Mas que dá vontade, dá. O sujeito faz um desgoverno trapalhão e predatório, um desgoverno nefasto e nocivo, marcado por total e absoluta falta de noção do que é esta cidade, sob fortes suspeitas e pesadas acusações de corrupção – e, quando chega a hora de votar, a população o confirma no cargo. Ora, se o que tínhamos era uma administração claramente prejudicial a Salvador e as pessoas a aprovaram reelegendo o desprefeito, só posso dizer uma coisa: a maioria da população soteropolitana manifestou, naquele momento, desrespeito e desprezo por nossa cidade.

Tempos atrás, numa entrevista, eu disse que a atual população de Salvador não está à altura da cidade que herdou. É com tristeza que faço a afirmação. Mas não tenho alternativa. É por não estar à altura da cidade que recebeu de seus antepassados, que nossa atual população vem avacalhando Salvador a cada dia que passa. Como se não bastasse, reelegeu o sujeito que comanda a avacalhação oficial da cidade. Consagrou uma desprefeitura estúpida e destrutiva. Porque Salvador está, sim, submetida a um processo destrutivo, que a vem detonando de diversos modos e por vários meios.
Temos ainda o triste espetáculo da Câmara Municipal. Neste momento, a Câmara desonra sua própria história. Quando olho o elenco da atual vereança... Se fosse possível, deveríamos retirar dela qualquer poder de decisão sobre assuntos sérios. Sobre coisas importantes para a cidade. A atual Câmara já demonstrou de sobra que não está preparada para coisas sérias, como no episódio do Plano Diretor. Sua função bem que poderia ficar limitada à distribuição de medalhinhas de mérito duvidoso. Só. Ela não tem condições de fazer mais do que isso. Prefeitura e Câmara se merecem.
Acho, por isso mesmo, que devemos recorrer ao governador Jaques Wagner. O governador deve deixar pudores administrativos de lado – e, já que Salvador está sendo destruída, entrar em campo a favor da cidade. Realizar obras realmente necessárias e significativas. Obras de ponta. Ousadas. Na dialética entre a tradição e a invenção. Fazendo com que Salvador comece a dar o salto de qualidade urbanística de que ela tanto precisa. É por esse caminho, de resto, que Wagner pode ultrapassar a marca deixada por Antonio Carlos. O que este promoveu, aqui, foi uma espécie de modernização defasada. Wagner, se quiser, pode ir além. Em diálogo permanente com a nossa história, pode promover uma atualização real e efetiva de Salvador, em termos de absoluta contemporaneidade.
Exemplifico: a ponte Salvador-Itaparica e o Comércio. A ponte tem de ser esplêndida, para não esculhambar visualmente a baía. Com esta obra, Wagner fica na história da cidade. Mas, a depender da obra que faça, tanto pode ficar na história como o autor de uma joia, quanto como o autor de um trambolhão (se, por exemplo, adotar o estilo da Rio-Niterói). Na verdade, Salvador precisa de três coisas. Superar a dependência do ônibus, organizando um sistema de transporte centrado no VLT e retomando a circulação naval, que praticávamos já no século 16. Fazer a chamada Via Atlântica e refuncionalizar Pituaçu. Construir a ponte.

Esta última terá três implicações. Repensar e requalificar a Cidade Baixa, na base da ousadia urbanística (foi assim, afinal, que o Comércio se configurou). Ter uma política ecossocial para o golfo baiano e suas ilhas. Preparar as cidades do Recôncavo para suas novas realidades e interconexões, com obras de logística e infraestrutura social. Topa encarar, governador?
Vale a pena a leitura...

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