quinta-feira, 15 de abril de 2010

Falta de política específica compromete descarte de lixo eletrônico


As projeções são otimistas: o setor de eletrônicos prevê incremento de 21% em 2010. Na indústria de computadores, o crescimento deve chegar a um patamar de 30%. Puxado pelo aumento da renda e do consumo das famílias, o Brasil será inundado por 14 milhões de computadores e 68 milhões de celulares até o final deste ano.


Por trás das boas novas, no entanto, esconde-se um imbróglio que ainda está longe de uma solução definitiva: o descarte de produtos eletrônicos de maneira adequada.



Sem programas de larga escala para recolha e reaproveitamento, a Bahia ainda patina em relação a políticas voltadas para o lixo eletrônico.


Com isso, a maioria dos equipamentos acaba misturada ao lixo comum.

Ao contrário de outros estados como São Paulo, a Bahia ainda não possui uma legislação específica que demande responsabilidades e especifique o destino do lixo eletrônico.

O assunto começou a ser debatido na Secretaria de Ciência e Tecnologia há apenas um ano e, por enquanto, existe apenas um pré-projeto esboçado sobre o assunto.


O coordenador executivo do Programa de Inclusão Digital da secretaria, Cristiano Barreto, explica que o tema é complexo e envolve diversos atores. Por isso, o projeto deverá ser concluído apenas no final deste ano. " Vamos ter que mudar paradigmas do cidadão e do setor produtivo.

Serão necessárias ações de conscientização, mas ainda não temos um modelo de como isso será feito", explica.

Políticas públicas Com o aumento do consumo das famílias, o problema tende a se agravar. Segundo relatório divulgado no mês passado pelo Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, da ONU, o Brasil já é o mercado emergente que gera o maior volume de lixo eletrônico per capita a cada ano, com cerca de 0,5 quilo de equipamentos descartados por pessoa.
Apesar do cenário temeroso, ainda faltam políticas pública eficientes e de alcance para o descarte e reaproveitamento do lixo eletrônico.

Em novembro do ano passado, foi implantado em Lauro de Freitas um Centro de Recondicionamento de Computadores, parceria da prefeitura com o Governo do Estado.

O programa, no entanto, tem como foco a capacitação profissional e ainda funciona como um projeto piloto - a meta é recuperar 500 computadores até o final do ano.

Na Prefeitura de Salvador, a Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb) informa que não há nenhum programa específico para coleta de lixo eletrônico.

Iniciativa Sem apoio do poder público, a reciclagem de equipamentos eletrônicos na Bahia ainda passa ao largo de uma cadeia estabelecida. Em Salvador, este processo é feito de maneira quixotesca por dois irmãos: o economista Joandro e o artista plástico Joseval Araújo.

Há três anos, eles montaram um pequeno galpão no bairro de Nazaré. Começaram a recolher equipamentos eletrônicos e desmontá-los para dar o destino certo a cada componente. Os metais simples como ferro e cobre podem ser vendidos a ferros-velhos de Salvador. No entanto, as placas dos computadores podem conter metais pesados como chumbo, mercúrio e cádmio. Nocivos à saúde e ao meio ambiente, estes materiais podem causar doenças e contaminação de lençóis freáticos, caso sejam descartados no solo.

Sem empresas especializadas na Bahia, as placas atualmente têm que ser enviadas para São Paulo. "O lucro que temos com a venda só dá para cobrir os custos da recolha e do transporte dos materiais.

Infelizmente, esta é uma cadeia economicamente inviável", assegura Joandro.

Segundo o chefe do Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática da Universidade de São Paulo (USP), Irã Margarido, o País ainda dá os primeiros passos para viabilizar uma cadeia sustentável para o lixo eletrônico: "Existe muita gente interessada em fazer destas peças um negócio rentável, mas falta incentivo", explica.

Autor: Jornal Atarde

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